Em 1897, Manaus contava além do imponente e majestoso
Teatro Amazonas, com alguns pequenos teatros, como o Éden, muitos centros de
diversões, clubes carnavalescos e esportivos, associações lítero-musicais e os
novos clubes noturnos, alguns deles cabarés camuflados. Circos pululavam pelas
amplas e arborizadas praças da cidade. O povo gostava de ir às corridas de
touros no Coliseu Amazonense, ao carrossel de cavalinhos no Recreio Ajuricaba e
aos arraiais no Pobre Diabo. Aos domingos, os passeios de bonde eram o
divertimento de todas as famílias. (DAOU, 2000)
A borracha havia transformado Manaus. A aldeia decadente de 1850 desabrochara e
transformara-se na efervescente metrópole dos trópicos. E para abrilhantar
ainda mais as noites alegres da nova elite boêmia, a 16 de outubro de 1896
havia sido inaugurada a iluminação elétrica no centro de Manaus, cuja luz
parece ter demorado a sobrepor-se ao brilho da lua: “Nada podemos ainda
dizer a respeito deste serviço, porque sendo de luara
noite de inauguração, pouco ou quase nenhuma diferença notamos entre a
claridade que apresentava a luz elétrica nas ruas em que ela apareceu e a que
ostentava a lua nas demais ruas onde a luz elétrica não chegou”. Amazonas, 17.10.1896,
p. 1.
Enfim, o cenário estava pronto para abrir o espaço à
“modernidade”, que se instala, sem retorno.
A elite divertia-se: temporadas líricas no Teatro Amazonas, saraus
artístico-musicais e etílicos no Club Internacional e no Ideal Club, jogos e
bebidas no Hotel Casina, alta prostituição na Pensão da Mulata e em outros
cabarés... Para o divertimento da plebe havia touradas, carrosséis, cabarés de
última categoria, arraiais, passeios de bondes, circos e espetáculos teatrais
em hotéis-pardieiros...
O fausto da borracha, com suas noites brilhantes e sons alegres, não era capaz,
entretanto, de esconder a miséria e a fome que rondava a periferia da cidade.
Funcionários sem vencimentos, crimes, roubos, mendicância escancarada, crianças
perambulando pelas ruas, o outro lado triste e sujo do rosto de Manaus vinha
estampado nas páginas policiais dos jornais, enquanto na primeira folha
louvava-se a “calma”, a “ordem” e a “tranqüilidade pública” da capital. (DIAS,
1999).
Nesse clima de esplendor, riqueza e miséria, o cinema chegou a Manaus, tímida e
desastrosamente. Com um simples anúncio na primeira página do jornal O Imparcial no dia 11 de abril de 1897, sua
estréia deixou muito a desejar, conforme informa o mesmo jornal, no dia l3:
Sábado tivemos no Teatro Amazonas
uma exibição do Cinematographo. O aparelho devido a fato que ignoramos não
trabalhou com perfeição, pelo que o seu exibidor não repetiu o divertimento no
domingo.
RECORTE DO TEXTO: O CINEMA NA AMAZÔNIA E AMAZÔNIA NO CINEMA DE Selda Vale.
MISAM - Museu da Imagem e do Som do Amazonas
PALACETE PROVINCIAL
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